quinta-feira, 22 de março de 2012

Joey Ramone: A entrevista perdida de 1989

Autor: NachoBelgrande





Em 1989, Christine Natanael, jornalista estadunidense radicada em Nova Iorque e com larga experiência no meio musical entrevistou o então já emblemático e icônico JOEY RAMONE, que na época divulgava o recém-lançado ‘Brain Drain’, e particularmente, o single ‘Pet Sematary’, que embalava o filme ‘Cemitério Maldito’, baseado num livro de Stephen King.
A entrevista, muito extensa para ser publicada na época, teve uma versão condensada finalmente impressa na edição de verão [do hemisfério Norte] de 2009 da Classic Rock Magazine inglesa. É dessa versão que seguem alguns trechos, traduzidos.



Os Ramones tocaram no [finado clube punk nova-iorquino] CBGB durante os anos 70. Quais suas opiniões sobre o local agora?

Minhas opiniões meio que mudaram. Nós fomos umas das primeiras bandas a tocar lá. Quando eu o descobri, era apenas um boteco que não vingou como bar de música caipira. E eu me lembro de quando falei pela primeira vez com o dono Hilly Krystal, ele disse: “Ninguém vai gostar de vocês, mas eu vou deixar vocês voltarem.” E eu nunca vou me esquecer disso.
O TELEVISION ficava com as melhores noites, mas nós tocávamos assiduamente – o tanto quanto pudéssemos. Eu acho que costumávamos tocar toda noite de segunda-feira e daí finalmente conseguimos tocar aos finais de semana. As primeiras pessoas para as quais tocamos foram o barman e o cachorro dele. E dois caras do The Cockettes [N. do trad.: banda precursora do glam e que tinham grande aceitação na comunidade gay], Tomata Du Plenty e Gorilla Rose. Era meio aquela galera do Andy Warhol, entende? Então foram os gays que gostaram da gente primeiro.
Eu me lembro que Danny Fields estava sempre por lá. Nós realmente admirávamos Danny. Nos anos 60 ele trabalhava de olheiro pra Elektra. Ele descobriu Jim Morrison, ele descobriu Lou Reed, o MC5, ele simplesmente conhecia todo mundo. E nós éramos grandes fãs do Stooges também, então, você sabe, houve uma empatia instantânea ali, naquela época. Danny era editor da [revista de celebridades] 16 Magazine, e ele nos adorava. Gradualmente mais e mais pessoas começaram a vir, mas muita gente não ia naquela parte da cidade naquela época.
As cenas realmente em voga começam em lugares assim ou em algum lugar favelão, entende o que quero dizer? Nós começamos em 74, e nosso primeiro show no CBGB foi em Dezembro de 1974. E não tinha ninguém. Éramos nós, Television; Patti Smith ainda era poeta. Muito mais tarde, eu acho que em 1976, ela se juntou a Lenny Kaye. E tinha os Stilettos, que eram pré-Blondie, e mais algumas pessoas. [...]






Joey Ramone e Wendy O. Williams



[...] Eu acho que em 1976 o Ramones revolucionou o rock n’ roll e trouxe uma aura e uma postura novas e espírito e energia bruta e emoção ao que não estava mais ali. Havia um vazio. Em 1976, nos EUA, só dava Eagles, o Doobie Brothers e rock corporativo como Styx, Foreigner e Journey, e não havia tal coisa como música legal. Também foi o ápice da disco music. Então nós estávamos definitivamente sacudindo a cena, enquanto o Foreigner e o Journey e o Styx e a Donna Summer eram a nova hierarquia. Nós estávamos indo contra a onda, sem bajular, sem nos comprometer. Nós queríamos sacudir o mundo. Nós queríamos que as pessoas sentissem de novo. É como se todo mundo estivesse dormente e nós demos um tapa na cabeça das pessoas e dissemos: ‘Acordem! Vocês são seres humanos!’ Você me entende? Sentir. Queremos que você sinta de novo [...]
Mas vocês fizeram algo de bom. Eu fico muito feliz pelos Ramones e toda aquela época porque isso realmente trouxe vida à indústria do disco.
Bem, daquele dia em diante, a indústria do disco nunca seria a mesma. O rock nunca seria o mesmo. Seria muito mais saudável e sob uma luz muito melhor. Quero dizer, afetou todo tipo de banda daquele tempo até agora. Mesmo bandas como o Pretenders e todas aquelas bandas que podem não ter soado como bandas punk. Isso afetou todo mundo e todo mundo foi influenciado, seja musicalmente, seja na imagem, na postura, ou no vocabulário, psicologicamente, filosoficamente. Todo mundo foi tocado, em algum ponto. E agora em 1989 há uma nova geração e é a nova juventude. E bandas como o Metallica, Anthrax, Guns N’ Roses – mais uma vez os Ramones foram diretamente responsáveis pela segunda onda dez anos depois.
Uma banda como o Metallica estava basicamente pegando nosso som, de novo, mas eles são meio que a nova tendência. O que eu gosto em bandas como o Metallica e o Anthrax e tudo mais é que eles estão fazendo as coisas do jeito deles. E há uma honestidade. Há uma animação. Há uma energia. Há uma chaga na qual eles dizem: “Vai se foder. Isso somos nós.” Essas bandas são radicais numa época onde o tipo de coisa que impera nas paradas da Billboard, você sabe, tipo os Bon Jovis – os Foreigners de novo, o que seja. E o que eu curto é que mesmo sem tocar na rádio, eles vendem tipo, um milhão de discos. Eu acho que isso é ótimo.
Houve um tempo quanto tudo era sintetizado no power pop e toda essa merda – techno/pop. Agora dá pra cravar os dentes em algo de novo. Você pode mastigar algo. Você pode sentir o osso por baixo da carne. Bandas como Flock of Seagulls se foram. Os dias do Human League acabaram.
Agora é a hora de mandar ver e tocar rock e ouvir a rock de novo. Claro, sempre haverá a merda Techno do outro lado. Sempre haverá um Information Society, grupos como esses. Isso nunca vai morrer porque é inofensivo e seguro. Então os programadores de rádio e pessoas desse naipe sempre tocarão esse tipo de coisa. Mas, por outro lado, é bom ver que há uma necessidade real de hard rock e vigor e realismo.
Há muitas bandas boas por aí, como, o Georgia Sattelites, e há um espectro muito amplo, diversificado de música. E na verdade, da maneira que eu vejo, há muita coisa boa e não há espaço pra barreiras. Você me entende? Não há razão pra você não gostar de Led Zeppelin e Ramones e Patsy Cline ao mesmo tempo. Se for bom, é bom. Tem tanta coisa pra se jogar de cabeça.
Muitas pessoas não são muito cabeça-aberta. Quero dizer, uma vez que você escute Jeff Beck e Jimi Hendrix Experience, isso é começo, meio e fim. Não uma banda como o Guns N’ Roses – que são bons, mas eles não são o Jeff Beck Group e eles não são o Jimi Hendrix Experience e eles não são o Doors.
Eu não sei se o Guns N’ Roses realmente merece ser o número um, e eu tenho certeza de que isso é uma piada pra eles. Mas é engraçado. Se nós já precisamos alguma vez de um modelo de inspiração, é agora e é engraçado termos o Guns N’ Roses – um bandao de noiados. Esse país, os EUA, é um lugar muito estranho.





Do que você gosta, particularmente? Por exemplo, qual seu grupo favorito na atualidade?


Uma de minhas bandas favoritas? Bem, eu sempre amei Motörhead. Eles são uma de minhas bandas favoritas de todos os tempos. AC/DC, bem, eu adorava o AC/DC com Bon Scott, mas o outro cara é bom também. Ele parece um taxista, mas ele é um sujeito legal. E o que mais? Eu curto o Georgia Satellites. Eu gosto do Dickies.
Eu curto o Guns N’ Roses também. E vou te dizer o porquê, porque eles não bajulam ninguém. Eu curto a postura deles porque é uma postura legitimamente rock n’ roll. Eu não curto essa merda toda de droga. E do jeito que a coisa vai indo… eu não vejo eles durando mais cinco anos. Mas eu acho que eles escrevem ótimas canções e eles têm a postura certa e eles têm um bom visual e eles são uma porra duma banda. Você entende o que quero dizer? Eles são uma banda boa, agitada. Eles são modelos de inspiração para o mundo, especialmente pros EUA. Eles têm o disco #1 nos EUA. Então os garotos olham pro Guns N’ Roses e montam uma banda de rock de verdade. As bandas que estão por aí hoje em dia são autênticas, tipo, mais bandas de rock com o pé no chão do que os Bon Jovis de merda e coisa do tipo. O que é bom.





 tags: ramones, entrevista, punk rock,
fonte: http://lokaos.net

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