quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Argentina e os nazistas



A história do bispo inglês Richard Williamson que negou o holocausto e ontem foi deportado da Argentina é apenas a ponta de um iceberg. A relação Argentina-nazistas-judeus vem de muito antes, dos anos 30, 40 e 50.

Para se estabelecer no período 1943-1946, o presidente Perón incluiu seu amigo pessoal e empresário Rodolfo Freude entre os conselheiros econômicos do peronismo. Rodolfo Freude era reconhecidamente ligado as teorias nazistas, e isso foi refletido no período, quando a Argentina passou a permitir a entrada de capitais de industriais alemães após a batalha de Stalingrado, em 1943.

Depois, seu filho Rodolfo "Rudy" Freude assume cargo de secretario no governo, permitindo a entrada de milhares de criminosos e colaboracionistas nazistas à Argentina. Não só Alemanha, mas da Polônia, Croácia, França, etc.

Em 1947 é lançado o primeiro plano quinquenal, que incentiva a boa imigração, que permite a chegada dos últimos cientistas nazistas não absolvidos pelos aliados. Von Braun, cientista nazista que criara a bomba voadora B-2, tendo trabalhado depois na Nasa, veio à Argentina. Vários como Von Braun, tiveram suas penas diminuídas em Nuremberg. A intenção da Argentina era atrair esses cérebros a partir de 1947, depois de quatro anos atraindo capital.

Carlos Fuldner funda uma empresa em 1948 e abre para a chegada de nazistas, lançando licenças aos montes. Foi um ótimo negócio para ele, Fuldner, e para os nazistas recém-chegados, como Eichman.

Na mesma época, Perón concedeu documentos para tornar legais todos os imigrantes. Milhares de nazistas se regularizaram, como Otto Papper, que voltou a utilizar seu nome original, após alguns anos de clandestinidade na Argentina. Mengele é outro que regulariza seu nome. Ele chegou à Argentina com uma mala com tipos sanguinios e experimentos de Auschwitz.

Em 16 de setembro de 1955, as Forças Armadas, lideradas pela Marinha, promoveram a revolução libertadora e retiraram Perón do poder. Os militares contavam com a ajuda da Igreja, que passou a apoiar o golpe pouco antes, em março daquele ano, quando Perón lançou uma série de projetos como lei do divórcio, separação da Igreja e Estado.

A proteção militar, contudo, continuava efetiva aos criminosos. Logo após a queda de Perón, Adolf Eichman, que utilizava o nome de Ricardo Klement, assume cargo na Mercedes-Benz na Província de Buenos Aires.

A partir de 1956, o Estado de Israel já estava equilibrado e estabelecido. Com o apoio dos Estados Unidos, passa a colocar seu serviço de inteligência e espionagem para procurar os nazistas que viviam e trabalhavam na América Latina. O foco especial era, claro, a Argentina, um berço de refugiados.

Uma denúncia anônima de um colega de trabalho de Ricardo Klement (Eichman) ao serviço EUA/Israel no início de 1960 provocou uma prática nada ortodoxa. Os israelenses entraram na Argentina e sequestraram Eichman, entre abril e maio de 60, levando-o a Israel. Lá ele seria julgado e condenado à morte pelos crimes dos anos Hitler na Alemanha. Seria morto em 31 de maio de 1962.

A vida dos nazistas na Argentina funcionou normalmente nas décadas de 40, 50 e 60, a não ser pelas incursões dos israelenses ou por políticas da Alemanha (que depois de 45 seria dividida entre os ocidentais e a União Soviética). Em novembro de 1956, após anos de tranquilidade na Argentina - mesmo com as turbulências internas que depuseram Perón um ano antes - um alemão clandestino deu entrada em sua embaixada com nome verdadeiro: Joseph Mengele. Por quase três anos isso não gerou problemas a ele, que continuou levando a vida na Argentina com sua situação normalizada com a Alemanha. Em setembro de 1959, no entanto, a República Alemã pediu sua extradição à Argentina.

Mengele fugiu, indo se tornar nômade por um tempo, até entrar no Brasil, de maneira clandestina. Morreu nos anos 80, de ataque cardíaco, numa praia brasileira. Teria sido mantido pelo Estado alemão até alguns anos antes de sua morte.


fonte: http://joaovillaverde.blogspot.com.br

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