segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Ei-los que partem - Lucy Coelho




Muitas vezes sentimos um vazio por alguém que se foi, imaginamos a volta, o regresso, seria uma viagem de breve retorno...
A verdade é um sono profundo, que não possui sonhos.
-Parece que estou eternamente esperando, ingenuamente! -Ou estou sendo esperada
?!
Meu coração têm tanta fé e esperança, mas a canalha da razão arrasa o meu coração quando diz: - A passagem foi só de ida, não existe regresso para os teus. Ei-los que partem, diga apenas adeus e até breve!
Choro sem conter-me, meu travesseiro é lenço, consolo e quem sabe, um abraço confortável de um amigo mudo, mas não surdo, pois eu confesso a minha saudade ao pé do seu ouvido.
-Será que existe uma estação de trem do outro lado
? Estaria eu, quem sabe, sendo aguardada?! -Eu me sinto inquieta com essa falta amarga e exagerada, dolorida das idas, das partidas sem voltas e sem adeus dos meus!
Ei-los que partem e, logo, também irei; espero encontrá-los, se não, continuarei perdida na eterna e ingênua espera de quem partiu e levou uma parte que não é preenchida, apenas ludibriada. Então a alma chora, o coração pede consolo...
Dias passam, mas a esperança sobrevive de promessas bíblicas que firmemente confio, eu creio em
DEUS!
Sou uma locomotiva, a vida são os trilhos e meus vagões são tudo que eu levo. Tenho um vagão exclusivo só para saudade e como está carregado e pesado, é um fardo!
Ei-los que partem, mas me deixam à parte de onde realmente vão.
Presentes estão os ausentes: as vozes, os rostos, um cheiro, uma palavra dita, um afago que foi bem-vindo... Só nunca ouvi um adeus ou um até breve!
Lágrimas descem, pois o meu coração transborda, a tristeza me afoga, quem poderá me livrar da morte?
A locomotiva ainda tem muitas estações para percorrer, creio que a última, vou descarregar o vagão da saudade, e será em um jardim florido, perfumado, do céu azul e de pequenas nuvens; essa é a minha estação florida e daqueles que partiram. Não haverá adeus ou até breve, somente: - Senti tanto a sua falta, querida filha, querida cunhada, minha amiga...
Quando a locomotiva parar na estação, as janelas serão cobertas de borboletas coloridas e ouvirei pássaros louvando!
Não será um dia como outro, mas de reencontros; não haverá mais despedidas, mas um júbilo.
Ei-los que partem, até breve! Um dia, a gente se encontra na estação florida!
No momento que eu escrevo, vejo uma borboleta amarela do lado de fora da janela, ouço um pássaro, relembrando-me de que um belo dia ele louvará em um coral.
"Ei-los que partem" e a saudade contida fica sem adeus ou até breve, aguardando-me, quem sabe na próxima curva?


Lucy Coelho

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