Leandro Araújo
(poesia vencedor da Campereada Internacional do Alegrete - 1995)
Muito mais que somente um guri,
É um pequeno homem das lidas campeiras.
De calça curta e pés no chão,
Na cabeça, um chapéu velho de aba quebrada
-Herança do seu avô-
E na cintura, uma cherenga
Presa num tento de couro cru.
Na escola do galpão
Aprendeu a amar o pago.
Ouvindo os versos de algum xirú
Ou um bordonear de guitarra,
Nem pensa em deixar a estância
Por povoeiras ilusões.
Os sonhos de um guri campeiro
São estrelas que se fundem
Num céu de imagens rurais
Onde a pata de cavalo e a ponta de lança
São luzeiros que iluminam as fantasias
E guiam os passos de um piá.
Quando um velho conta um causo
Se deixa cabrestear
Pelas histórias de guerra,
E nas rodas de galpão
Sonha que é herói
De lenço colorado no pescoço,
Montando o flete mais lindo
E com a espada firme na mão.
E o guri vira soldado
Nas arrancadas de "Noventa e Três",
É Adão Latorre nas degolas
Frente a Maneco Pedroso
Para a bênção sangrenta
No fio da adaga colorada.
Mas, sem entender o porquê das guerras,
Passa de Honório a Flôres
-Foi chimango e maragato
Nos causos de "Vinte e Três"
Pois pra ele a cor do lenço não justifica
Lutar irmão contra irmão.
Não sonha com naves loucas
Ou com seres de outro mundo,
Viaja no lombo dos pingos
Nas cargas de lança
E nos tiros de laço.
Era soldado e peão
Nos tempos que o fio de barba
Era o documento mais honrado.
Mas...
Antes mesmo
Do sol brotar por entre os serros
As infantis fantasias
Viram terrunhas realidades:
Buscar as vacas de leite,
Trazer água da cacimba,
Campear uma rês perdida,
Cumprir a faina exigida
Porque na lida de campo
Trabalho não tem idade.
Aproveita, guri!
Ainda és novo!
O teu inseguro porvir
Tirará estrelas do céu,
E os teus mágicos devaneios
Darão lugar a tristes realidades.
O soldado peão de teus encantos
Se apagará da memória
E as guerras fantasia
Serão lutas de sustento
Contra máquinas letais.
Na construção de um novo mundo
Não haverá lugar para sonhos.
O teu trabalho de campeiro
Vai sumir nas construções.
Sonha, sonha enquanto há tempo,
Pois os sonhos acalentarão
Teu futuro de incertezas.
Gracias pela referência.
ResponderExcluirPodes seguir meu blog para encontrar outros poemas de minha autoria. Estão no link abaixo:
https://blogdoleandroaraujo.blogspot.com/