Dedicado às artes visuais, Scheffel lutava contra um câncer de via biliar
Ernesto Frederico Scheffel foi movido por grandes sonhos. Os primeiros eram daqueles quase impossíveis para um guri nascido em Campo Bom, em 1927, filho de um descendente de imigrantes alemães que sustentava a família como sapateiro e barbeiro. Ele queria ser artista. E não só: ser artista no berço do Renascimento.
Scheffel morreu na manhã desta quinta-feira, 16 de julho, aos 87 anos, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O velório ocorrerá na Fundação Ernesto Frederico Scheffel (Avenida General Daltro Filho, 911, Novo Hamburgo), a partir das 18h e vai até as 23h. Na sexta, reinicia às 7h e encerra às 15h. O corpo de Scheffel será cremado Novo Hamburgo, em evento fechado para a família.
Ele lutava há anos contra um câncer de via biliar, mas teve em vida a felicidade de realizar os maiores de seus sonhos. Conseguiu virar artista e passou boa parte de sua vida em Florença. Na cidade italiana em que cada lugar transborda arte e história, ele desenvolveu sua carreira estudando com grandes mestres e vendo de perto o legado dos gigantes renascentistas.
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Como muitos aprendizes, Scheffel começou praticando cópias dos clássicos, na tentativa de decifrar suas técnicas e códigos. Deu forma assim a uma produção de grande afinidade com a arte antiga. Fez desenhos, esculturas, mas principalmente pinturas de temas e gêneros figurativos, em técnicas como afresco e óleo. Nunca se concentrou em uma escola ou movimento. Ao contrário, transitou por diversas correntes, plasmando em sua obra influências diversas, como barroco, romantismo, realismo e simbolismo. Essas referências, ao mesmo tempo em que lhe conferiram um caráter passadista, também o mantiveram afastado das vanguardas, grupos e manifestos artísticos que agitaram a primeira metade do século 20, no Brasil e no mundo.
Tal trajetória ajuda a explicar o relativo afastamento que manteve do ambiente das artes gaúchas no período protagonizado por seus pares de geração como Iberê Camargo, Carlos Scliar, Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Vasco Prado. Talvez por isso, Scheffel também não tenha desfrutado em sua terra do reconhecimento e do prestígio de seus contemporâneos.
Como muitos aprendizes, Scheffel começou praticando cópias dos clássicos, na tentativa de decifrar suas técnicas e códigos. Deu forma assim a uma produção de grande afinidade com a arte antiga. Fez desenhos, esculturas, mas principalmente pinturas de temas e gêneros figurativos, em técnicas como afresco e óleo. Nunca se concentrou em uma escola ou movimento. Ao contrário, transitou por diversas correntes, plasmando em sua obra influências diversas, como barroco, romantismo, realismo e simbolismo. Essas referências, ao mesmo tempo em que lhe conferiram um caráter passadista, também o mantiveram afastado das vanguardas, grupos e manifestos artísticos que agitaram a primeira metade do século 20, no Brasil e no mundo.
Tal trajetória ajuda a explicar o relativo afastamento que manteve do ambiente das artes gaúchas no período protagonizado por seus pares de geração como Iberê Camargo, Carlos Scliar, Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Vasco Prado. Talvez por isso, Scheffel também não tenha desfrutado em sua terra do reconhecimento e do prestígio de seus contemporâneos.
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No livro de memórias Scheffel por Ele Mesmo (2013), o artista lembra que seu primeiro contato com a arte se deu em 1935, quando visitou Porto Alegre com os pais nas comemorações do centenário da Revolução Farroupilha. Em uma exposição que integrava os festejos, o guri de oitos anos que vivia em Hamburgo Velho, o bairro histórico da colonização alemã em Novo Hamburgo, impactou-se ao ver as paisagens pintadas por Pedro Weingartner.
O que aconteceu depois é digno de um roteiro de cinema. Um desenho do garoto Scheffel chegou aos olhos de Cordeiro de Farias, interventor do Estado (equivalente a governador) entre 1938 e 1943. Encantado com o talento precoce, o político decidiu encaminhá-lo. Scheffel se mudou para Porto Alegre e começou a estudar no Instituto de Belas Artes (hoje Instituto de Artes da UFRGS) e no Instituto Parobé. Teve como professores João Fahrion, Angelo Guido, Fernando Corona, José Lutzenberger, João Cândido Canal e Bento Castañeda, entre outros.
Nesse aprendizado, foi atrás de um novo sonho: decidiu conhecer Osvaldo Teixeira, então diretor da Escola Nacional de Belas Artes. Agraciado com uma bolsa do Estado do RS, mudou-se para o Rio de Janeiro e logo começou a participar de salões de arte pelo país. Em 1958, ganhou um prêmio-viagem que o levou à Europa. Tão logo conseguiu se estabelecer, radicou-se na sonhada Florença, onde viveria as quase cinco décadas seguintes.
Nos anos 1970, Scheffel começou a passar temporadas maiores no Brasil. Foi quando ele reencontrou o antigo casarão de Hamburgo Velho onde havia estudado. Sensibilizado pelo estado precário da construção erguida em 1890, deu início a uma luta pela preservação da região. O imóvel foi desapropriado pela prefeitura e oferecido ao artista para acolher seu acervo. E assim nasceu a Fundação Scheffel, onde estão cerca de 400 obras que contam a história de Scheffel.
Essa coleção apresenta seus primeiros trabalhos de formação, passando pelas pinturas com que participou de salões de arte no país, até as obras que realizou na Itália. Há desenhos e esculturas, mas a maior parte são pinturas, com destaque para as de grandes proporções, como Rixa Gaúcha, uma ode à cultura sulista com mais de quatro metros de largura por dois metros de altura para a qual o folclorista Paixão Côrtes serviu como modelo.
Em 2015, Hamburgo Velho foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), garantindo a preservação do casario. Foi o ponto final de uma conquista iniciada em 1985 com o tombamento da casa mais antiga da região, de 1831, que abriga o Museu Comunitário Casa Schmitt-Presser. E, assim, Scheffel testemunhou em vida a concretização de um de seus últimos grandes sonhos.
Algumas Obras
* Zero Hora