Meu querido filho Frederico,
Escrevo estas poucas linhas que é para saber que estou viva.
Escrevo devagar porque sei que não gosta de ler depressa. Se receber esta carta, é porque chegou. Se ela não chegar, avisa-me que eu mando outra.
O teu pai leu no jornal que a maioria dos acidentes ocorre a 1 km de casa. Por isso, mudamo-nos pra mais longe.
Sobre o casaco que queria, o teu tio disse que seria muito caro mandar pelo correio por causa dos botões de ferro que pesam muito. Assim, arranquei os botões e coloquei-os no bolso. Quando chegar aí, pregue-os de novo.
No outro dia, houve uma explosão no botijão de gás aqui na cozinha. Teu pai e eu fomos atirados pelo ar e caímos fora de casa. Que emoção! Foi a primeira vez em muitos anos que o teu pai e eu saímos juntos.
Sobre o nosso cão, o Rexlino, anteontem foi atropelado e tiveram que lhe cortar o rabo, por isso toma cuidado quando atravessar a rua.
Tua irmã Laura vai ser mãe, mas ainda não sabemos se é menino ou menina. Portanto, não sei se vai ser tio ou tia.
Hoje, teu irmão Valclintone me deu muito trabalho. Fechou o carro e deixou as chaves lá dentro. Tive de ir em casa, pegar a reserva para a abrir. Por sorte, cheguei antes de começar a chuva, pois a capota estava arriada. Se vir a Dona Rosinha, diz-lhe que mando lembranças. Se não a vir, não digas nada.
Um beijo,
Tua mãe Marcela
PS: Era para te mandar os 300 reais que me pediu, mas quando me lembrei já tinha fechado o envelope.
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