Nascido no racista Kentucky dos anos 40, boxeador foi um dos pilares dos movimentos negros nos EUA
Ali não foi apenas o melhor lutador da história. Foi o ícone de uma época. Venceu e foi vencido
São Paulo - “Voo como uma borboleta, pico como uma abelha, você não pode bater no que não pode ver”. Tão bom frasista quanto pugilista, Muhammad Ali – a personificação da confiança – completou 70 anos, nesta terça-feira. Nascido no racista Kentucky dos anos 40, foi um dos pilares dos movimentos negros nos EUA. Negou-se a ir para a Guerra do Vietnã. “Nenhum vietcongue me chamou de crioulo, porque eu lutaria contra ele”, perguntou o jovem campeão quando convocado para a incoerente batalha da Guerra Fria.
Mas sua atuação fora do ringue só ganhava repercussão porque seus golpes destroçavam pesos-pesados igual papel. Lendas da nobre arte como Sonny Liston, Floyd Patterson, Joe Frazier, George Foreman, Ken Norton, Larry Holmes, Leon Spinks caíram aos seus pés. No documentário Encarando Ali, todos esses, que um dia ficaram entre as cordas com Cassius Clay/Ali, são unânimes: ele levou o boxe para outro patamar e lutar contra ele mudou a vida de todos.
Ainda na ativa como boxeador, ele começava a ser eternizado em livros (como A Luta, Norman Mailer), filmes (Quando Eramos Reis), quadrinhos (Superman vs. Muhammad Ali), fotografias, músicas e poesias. Lutas com ele se tornaram clássicos da cultura pop. Rumble in the Jungle, o combate no Zaire com George Foreman, é até hoje lembrado. Ali permaneceu por 7 longos assaltos sendo golpeado impiedosamente e praguejando: “É só isso que você tem?” ou “disseram que você batia forte” ou ainda “minha mãe bate mais forte que você”. Enxergando a luta como uma partida de xadrez, Ali deixou o novato Foreman cansar de bater, literalmente, para nocauteá-lo exausto quando decidiu que era hora de soltar o braço.
Estratégias temerárias faziam parte do seu portfólio. Na clássica Thrilla in Manilla, em 75, Ali venceu Joe Frazier por pontos depois de suportar os últimos rounds com a mandíbula fraturada. Smokin’ Joe, como chamavam seu maior rival no ringue, achava que era parcialmente responsável pelo fato do inimigo ter desenvolvido o Mal de Parkinson. O Campeão do Povo acreditava que a ausência de fé que faz as pessoas temerem os desafios. “Eu tenho fé em mim mesmo”, disse, o mais influente esportista do século XX, antes de descobrir a doença que o calou. Ele não foi apenas o melhor lutador da história. Foi o ícone de uma época. Venceu e foi vencido.
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