terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Chico Xavier: O homem que levou a carta de um morto ao tribunal


Vida do médium foi marcada por acontecimentos polêmicos


A vida de Chico Xavier foi marcada por acontecimentos polêmicos e, para muitos, inacreditáveis. Suas psicografias não eram assinadas apenas por renomados escritores e poetas já falecidos, mas também por gente que buscava, por meio de relatos além-túmulo, esclarecer acontecimentos ocorridos na Terra.

Alguns desses relatos foram levados em conta em tribunais de Justiça, marcando a história do País. Foi o que aconteceu em Goiânia, em maio de 1976. Uma mensagem psicografada por Chico Xavier, assinada por uma pessoa morta, foi utilizada pela primeira vez como prova para inocentar um réu. 




Tudo começou quando a família de Maurício Garcez Henrique, morto aos 16 anos, foi ao encontro de Chico Xavier, a pedido do médium. Chico havia recebido uma carta do jovem na qual Maurício contava que a sua morte havia sido acidental. Na carta, Maurício contou que ele e o amigo José Divino Nunes – acusado de assassiná-lo – estavam brincando quando a arma disparou.

Os pais de Maurício ficaram impressionados, mas comprovaram a legitimidade da mensagem, que foi anexada às provas do processo. Em 16 de julho de 1979, o juiz Orimar de Bastos proferiu a sentença, inocentando José Divino Nunes, de 18 anos:
“Temos de dar credibilidade à mensagem de Chico Xavier, apesar de a Justiça ainda não ter merecido nada igual, em que a própria vítima, após a sua morte, vem revelar e fornecer dados ao julgador para sentenciar”, lê-se na sentença do juiz. 





Assassinato – A repercussão do fato na imprensa foi enorme, inclusive no exterior. Em 1982, o médium se envolveu em um episódio ainda mais polêmico: o assassinato do deputado federal Heitor de Alencar Furtado, filho de Alencar Furtado, ex-líder do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), cassado pelo AI-5. O policial José Aparecido Branco era acusado do crime. Mais uma vez, a habilidade mediúnica de Chico Xavier foi utilizada como recurso para esclarecer um crime.

Mensagens psicografadas por Chico e assinadas pelo deputado morto contavam como se desenrolou a morte e sustentavam que tudo tinha sido um acidente. A letra, assinatura e informações trazidas nas mensagens foram reconhecidas pelo pai de Heitor e anexadas aos autos do processo.

Em 1984, depois de mais de 30 horas de julgamento, o Tribunal do Júri de Mandaguari absolveu o policial. O promotor de justiça da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Davi Gallo Barouh, explica que a legislação processual brasileira não admite provas consideradas subjetivas, não-materiais, a exemplo das psicografias, que “nada mais são do que uma nova versão dos fatos, narrada pelo espírito de alguém que já morreu”, como definiu.

No entanto, Barouh destaca que, em casos como os que Chico Xavier esteve envolvido, as psicografias foram adicionadas a outras provas e testemunhos. “As mensagens psicografadas podem servir como mais um elemento no acervo probatório e, se cruzadas com outros elementos concretos, podem, sim, auxiliar na resolução de processos penais”, conclui o promotor Davi Gallo Barouh.

Atenção da mídia – As primeiras experiências de Chico Xavier com os processos denominados de “materialização” começaram a ser feitas quando o médium conheceu Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho, outra figura exponencial da história do espiritismo no Brasil. Cearense, órfão desde pequeno, Peixotinho seguiu aos 14 anos, sozinho, para o Amazonas para tentar a sorte nos seringais e, depois de várias aventuras e de um processo de desenvolvimento espiritual, passou a morar na cidade do Rio de Janeiro, onde fundou um centro espírita.

Peixotinho era considerado especialista em fenômenos de materialização: a partir do ectoplasma de uma pessoa, os espíritos se manifestavam e ganhavam corpo diante de todos que assistiam à seção. Na parapsicologia, o ectoplasma é definido como uma espécie de vapor esbranquiçado que sai, geralmente, da boca do médium. Chico Xavier conheceu Peixotinho por volta de 1948. 





Inicialmente, Chico apenas assistia às seções. Mas, em pouco tempo, o médium já estava emprestando o seu ectoplasma para materializar espíritos. Muitas seções foram fotografadas, e a notícia desses eventos espetaculares começou a se espalhar por todo o País.

Várias foram as tentativas de desmascarar Peixotinho e Chico Xavier, mas ninguém conseguiu provar se existiam truques nas materializações que faziam, não poucas vezes, com dezenas de pessoas como testemunhas. O jornalista Marcel Souto Maior, autor do livro As Vidas de Chico Xavier, primeira biografia jornalística publicada sobre o médium mineiro, nunca assistiu a uma seção de materialização.

Mas, ao conversar com Chico sobre o assunto, foi informado pelo médium de que ele havia decidido parar de realizar esse tipo de evento – que, pelo seu caráter espetaculoso, ganhava grande espaço na mídia e atraía centenas de curiosos – a pedido de seu mentor espiritual, Emmanuel.
O mentor espiritual de Chico teria dito a ele: “Sua missão é escrever os livros, por isso não deve perder tempo dedicando-se aos eventos de materialização”.



fonte: http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=2221795

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