É comum de todo ser humano a busca pelo equilíbrio, estar em consonância com o corpo, com a mente e com o meio em que vivemos, mesmo que inconsciente, é a performance das nossas lutas diárias. Quem não tem medo do novo, das novas experiências? Mas também, quem não tem vontade de se arriscar, de ir além e tentar? Com as crianças não é diferente, elas buscam suas realizações e buscam resolver seus conflitos o tempo todo.
Aprender é bem mais que um costume, ou algo embutido na sociedade para elevar o conhecimento, falamos aqui de uma aprendizagem característica da racionalidade humana, cujo aprender é uma necessidade e não uma formalidade. E por ser uma necessidade, não adianta tentar fugir, de uma forma ou de outra depararemos com alguma situação envolvendo algum de tipo de aprendizagem.
Ter medo de aprender é muito comum, a busca do equilíbrio pessoal começa travando em nossa mente uma guerra entre conceitos prontos e a construção do nosso próprio pensamento através da lógica e da nossa experiência, exigindo o tempo todo um novo olhar daquilo que tivemos um primeiro contanto para gerar a zona de aprendizagem. Dessa forma, “o medo de aprender é, portanto, desencadeado pelo antagonismo que existe de fato entre as exigências da aprendizagem, legítimas e incontornáveis, e os meios que certas crianças empregam para manter seu equilíbrio psíquico”, escreve Boimare (2007).
Resguardar-se, não participar, calar-se para a aprendizagem é uma forma utilizada pela criança para se manter numa zona de conforto. Pensam que o silêncio ou o anonimato podem tornar a vida mais fácil, sem cobrança, sem avaliações, sem motivos para “sofrer” demais. Nas tentativas de desenvolver a aprendizagem infantil, muitos professores aplicam métodos forçando a criança a aprender, como se a aprendizagem pudesse ser forçada.
Imagina-se uma criança que sabe declamar uma poesia perfeitamente, chama atenção de todos pela beleza que usa as palavras rimadas, essa criança pode não saber nada de poesia, pode não saber nada sobre a construção histórica do texto poético e, mesmo assim, declama muito bem o texto. Neste caso vê-se uma aprendizagem mecânica – se copiar uma poesia dez vezes poderia qualquer criança, decorar e declamar uma poesia. Entretanto, se o aprender é instigado através da própria realidade e das exigências emplacadas pela aprendizagem, da necessidade de aprender, a criança estabelece um vínculo entre a vontade, complexidade e exigências da própria aprendizagem.
O professor deve atentar-se para as aprendizagens forçadas, não se pode forçar o aluno a fazer aquilo que para aquele momento não é interessante. Não se deve generalizar este caso, mas seria bem mais interessante e aplicável questionar acerca do estado físico e emocional da criança no momento de se apresentar novos ensinos. Provocando o medo de aprender e insegurança de tentar, resistindo e criando suas próprias barreiras na concepção de novas aprendizagens.
Ai a autodesvalorização cede lugar aos medos de colapso, de abandono, de fragmentação, de perda de unidade, de vazio interior, de carência em relação às necessidades fundamentais. Logo então compreendidos, ao ver essas crianças trabalharem intelectualmente, o quanto o próprio instrumento – seja de memória, sejam os parâmetros psicomotores, a concentração e até o manejo de linguagem – pode ficar perturbado, ou mesmo prejudicado, com a aproximação desses medos.
(Boimare. 2007, pág. 26)
Em vista disso, e com base nos estudos de Boimare, pode-se concluir que o importante é não permitir que aprendizagem se perca e se corrompa, a zona de conflito provocado pelo medo de aprender deve ser mediada pela observação feita pelo professor e pelo cuidado de não forçar a aprendizagem. Compreendendo que o aprender é uma necessidade exigida internamente e individual, e que não pode ser confundida com uma formalidade forjada e calculista.
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