domingo, 15 de julho de 2012

ALLAN KARDEC, MÉDIUM DO ESPÍRITO DE VERDADE

Guillon Ribeiro
"Médium de Deus" foi como Jesus o chamou, em comunicação dada a Alexandre Bellemare, um dos elevados Espíritos que o assistiram na elaboração da sua esplêndida obra "Espirita e Cristão", publicada na mesma época em que o foram as do excelso missionário da Terceira Revelação. Tão expressivo e justo achou este aquele cognome aplicado ao Mestre Divino, que, autorizado por Bellemare, também se serviu dele nalguns de seus livros, notadamente em "A Gênese", para designar o Filho do Homem no exercício do seu glorioso messianato
Pois bem, com igual propriedade pensamos poder aplicar ao seu grande servo dos modernos tempos uma designação semelhante, cognominando-o de "Médium do Espirito de Verdade".
É certo que, dentro do papel que Ihe coube no advento da Nova Revelação, ele foi, por excelência, segundo a denominação que se generalizou, o Codificador da Doutrina Espirita, com a tarefa especial de joeirar a imensidade de revelações parciais, de instruções e ensinamentos que do mundo invisível Ihe chegavam, através de diversos médiuns, como abundante material destinado à grandiosa edificação que lhe cumpria erguer sobre as mesmas bases do puro Cristianismo—os Evangelhos.
Encarado como trabalho meramente humano, esse joeiramento e essa edificação poderiam. parecer, embora com escasso fundamento, de importância secundária, em confronto com vários outros de gênero mais ou menos análogo, já anteriormente realizados


De executá-lo, porém, como ele o executou, com perfeição tal que nem os mais meticulosos adversários do Espiritismo ainda puderam encontrar ai, à guisa de brecha favorável ao esforço em que se empenham por demoli-lo, uma contradição, um deslize, uma desconexão, uma falha de clareza, de lógica, ou de concatenação absoluta de princípios, só um médium excepcional seria capaz, um médium apto a manejar com inteira segurança e completa eficiência o instrumento da intuição, de modo a receber, em toda a luminosidade, o pensamento, não de um ou alguns Espíritos mais ou menos elevados, porém do conjunto daqueles que formam a coorte do Espírito de Verdade refletor do pensamento do Cristo, Senhor do mundo terreno, diretor da humanidade que o habita, também, Ele mesmo, Espirito de Verdade.

É o que foi, acima de tudo, aquele a quem os espiritas chamam Mestre. Pela altitude que já o seu Espirito galgara, pela excelsitude das aquisições morais e intelectuais que já o haviam qualificado para fazer parte daquela coorte de proeminentes seres espirituais, pôde ele, como homem, antecipando-se ao tempo, servir-se em larga escala, para a sua obra de verdadeiro missionário, desse instrumento—a intuição profunda, que será no futuro, segundo "A Grande Síntese", o das pesquisas que conduzirão a humanidade às culminâncias do progresso, por todas as suas sendas.
Legitimo é, conseguintemente, que, do ponto de vista dessa obra, o qualifiquemos de "Médium do Espirito de Verdade" e nele reconheçamos um "super-homem", do tipo dos de que fala aquele mesmo formidável trabalho também de natureza mediúnica —"A Grande Síntese".



Allan Kardec foi, portanto, um modelo, modelo do que virá a ser o homem da porvindoura civilização do terceiro milênio, quando, integrados na verdadeira concepção de Deus e no seu amor, os encarnados viverão dentro de radiosa e sã atmosfera espiritual, em comunhão intima com os altos planos da espiritualidade, a alargarem cada vez mais, pela intuição inerente a essa comunhão, a implantação do reino de Jesus na Terra.
Quanto à sua obra, já estudada, analisada e aprofundada, quer sob o aspecto científico, quer sob o aspecto filosófico-moral-religioso, se pode resumir em poucas palavras, dizendo-se que consistiu e consiste em reconduzir o homem a Deus pela trilha do Evangelho em espírito e verdade, escopo que ainda "A Grande Síntese", em todos os seus pontos, confirma plenamente ser o da Terceira Revelação, visto que a Lei social do Evangelho é a que presidirá, no seio daquela civilização, a todas as relações entre os homens, a todas as atividades e labores humanos. Essa recondução, porém, das criaturas ao Criador, não se dará, é claro, por efeito de nenhum ato milagroso, nem se daria assim, mesmo que o milagre, no sentido de derrogação das leis divinas ou naturais, não fosse inadmissível, por absurdo.
Pelo que ora se passa no mundo inteiro, como corolário do que de há muito vem sendo preparado mediante a obliteração do senso moral, do endurecimento dos corações em virtude do ascendente cada vez maior do egoísmo e do orgulho nas almas, facilmente se percebe que aquela recondução tem de ser feita pelo caminho inverso do que elas, as criaturas, tomaram para se afastarem da Divindade e que foi o dos gozos materiais, da satisfação de todos os apetites grosseiros e de todas as ambições de que aqueles sentimentos enchem as almas. Esse outro caminho não pode, pois, ser senão o da penitência viva, ao qual elas serão levadas pelas grandes provações que aí estão e pelas ainda mais duras e aflitivas que se anunciam, a fim de que nos corações renasça a fé que o materialismo da ciência aniquilou, com a cumplicidade das religiões, por ele também invadidas.
O Espiritismo, portanto, mais não é, afinal, do que uma exortação, qual tão ampla e vibrante ainda não houve, à penitência, para salvação dos que trocaram o tesouro do céu pelos da matéria, em cujo bojo, aliás, só encontram o único bem que lhes pode ela proporcionar: as dores, os sofrimentos, as amarguras e as aflições, como meio exclusivo de redenção dos que pecaram, porque de remissão das culpas e pecados, que exprimem desobediência à Lei soberana do amor a Deus e ao próximo.

Assim, com o ser, de fato, o Consolador prometido, o Espiritismo também é novo Precursor de Jesus e o Mestre foi a voz humana pela qual se fez ele ouvir, advertindo novamente os homens, como o fez outrora João Batista, igualmente super-homem, visto que, "dos nascidos de mulher nenhum maior do que ele", da "cólera" que há de vir e está vindo, em cumprimento e no dizer das profecias.
Saudemo-lo, então, reverentes e agradecidos, bem do imo dos nossos corações, na data em que se verificou o seu aparecimento na Terra, para cumprir a preclara missão que trazia, de amor e caridade Reverentes, sim, ante a grandeza do seu Espirito e do seu mandato; agradecidos, por ter sido o veículo da misericórdia do Pai, facultando-nos meio de nos tornarmos penitentes, sem necessitarmos de que a consciência nos seja despertada pelas provas acerbas e pelas dores cruciantes, a menos que não compreendamos a verdadeira finalidade do seu labor, ou que, embora compreendendo-a, não cuidemos de aproveitá-lo para a reforma do nosso eu, a fim de que em nós reviva a fé naquele que é Caminho, Verdade e Vida, conforme Ihe tocou de novo proclamar no fim dos tempos da "abominação da desolação", quando se prepara a "purificação do santuário" — os corações, pela cristianização das almas


(Artigo de fundo, da lavra de Guillon Ribeiro, de "Reformador" de 1939, página 326.)
FONTE: REFORMADOR, OUTUBRO, 1978.

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