Cientistas do Centro Médico da Universidade Columbia, em Nova York, estudam a possibilidade de formular a primeira pílula anticoncepcional oral para homens, capaz de interromper a produção de espermatozoides.
Em um trabalho ainda incipiente com ratos, publicado na revista Endocrinology, os pesquisadores relatam mexer em um receptor de ácido retinoico (derivado da vitamina A) e ter uma rápida recuperação da fertilidade após a interrupção do uso.
Há quase 100 anos, já se sabe que a falta dessa vitamina no organismo pode provocar esterilidade masculina, entre outros problemas, como prejuízos à visão.
Segundo o estudo, baixas doses da droga não afetam os olhos e, por não incluírem hormônios na composição, não teriam efeitos colaterais como diminuição da libido, maior risco de doenças cardiovasculares e hiperplasia (aumento) benigna da próstata.
O desafio agora, para que a pílula dos homens se torne realidade, é provar que o composto é seguro, eficaz e reversível quando usado por muitos anos.
Segundo o urologista Fernando Almeida, médico do Hospital Sírio-Libanês e professor da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esses estudos ainda são experimentais, e o grande problema é encontrar a reversão da infertilidade.
“Ser uma droga não hormonal, como ocorre nas mulheres, é uma vantagem nesse caso, pois mexer com os hormônios masculinos causaria alterações na próstata, na voz e no cabelo, entre outras”, diz o médico.
O ideal, portanto, seria bloquear apenas os receptores de vitamina A nos testículos, preservando o restante do corpo.
O urologista Renato Fraietta, especialista em reprodução humana e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), reforça que essa descoberta ainda é inicial, porém promissora. Várias outras sugestões de contraceptivos masculinos já surgiram, de acordo com ele, mas nenhuma emplacou.
“Quem sabe, isso possa ser criado e substituir a pílula feminina ou democratizar o uso entre os parceiros. Mas ainda não é possível prever como será”, afirma.
De acordo com o médico, os principais entraves são em relação à segurança, eficácia, praticidade e manutenção da função hormonal do indivíduo.
Ao contrário da mulher, que já nasce com todos os óvulos que terá durante toda a vida, o homem produz espermatozoides continuamente. A ejaculação elimina espermatozoides produzidos apenas três meses antes.
Por conta disso, a confecção de uma pílula masculina é mais difícil, pois a recuperação não é rápida e a reversibilidade pode ser lenta ou inexistente. Além disso, mexer nos hormônios pode desencadear um efeito "rebote" (baixa hormonal até a recuperação dos testículos), perda de força muscular, cansaço, depressão e sonolência, entre outros prejuízos.
“No período de uso, o ideal seria o homem ejacular normalmente, sem espermatozoides, da mesma forma que um paciente vasectomizado, com a diferença de que poderia voltar a ser fértil a qualquer momento”, explica Fraietta.
Se o composto for injetável, com duração maior que a de um comprimido, a dificuldade para controlar a duração do princípio ativo seria ainda maior.
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