Com quase 37 anos de Brasil, que serão completados em setembro de 2009, o cantor Ritchie já se considera brasileiro. Mas ainda mantém alguns hábitos que o ligam à terra natal, em Kent, Sul da Inglaterra. “Digamos que eu acordo inglês e vou me abrasileirando ao longo do dia (risos)”, diz o cantor, ainda adepto do chá earl grey (típico chá inglês) toda manhã, ou das torradas com marmite (pasta feita de extrato de levedura).
A justificativa do cantor vem através de um ditado britânico: “You can take an english man out of England, but can’t take England out of an english man” (Você consegue tirar um inglês da Inglaterra, mas não consegue tirar a Inglaterra de um inglês).
Vinda ao Brasil impulsionada pelos Mutantes
Mas, tirando estes pequenos detalhes gastronômicos, Ritchie tem mais tempo de Brasil do que de Inglaterra. Desde que chegou ao país, aos 20 anos, ele já foi hippie, new wave, cantou rock progressivo, casou-se com uma carioca e virou ídolo do pop nacional nos anos 80.
Tudo começou em 1972, quando conheceu, em Londres, os brasileiros Lucinha Turnbull, Sandra Werneck, Rita Lee e Liminha, estes dois últimos integrantes dos Mutantes. “Música e amizade me levaram ao Brasil. Logo que cheguei, fui ao Maracanãzinho ver o ensaio dos Mutantes e do Raul Seixas, no Festival Internacional da Canção. Fiquei impressionado”.
Londres: Ritchie com Rita Lee, Sandra Wenerck e Lucinha Turnbull
Já morando no Brasil, junto com a esposa carioca Leda (que também conheceu em Londres), Ritchie formou a Vímana, banda de “rock-jazz-pop-samba-funk-progressivo”, com músicos como Lulu Santos e Lobão. “Eu tinha formação clássica, então procurava no rock uma sonoridade que fosse para esse lado. Mas um dia ouvi Sex Pistols e fiquei encantado com o punk, com o ‘faça você mesmo’. Foi um processo de evolução para o simples, que aperfeiçoei nos anos 80”.
Graças a este “simples” que a carreira de Ritchie despontou e tomou dimensões que ele nunca imaginaria. Entre aulas de inglês que dava para artistas como Gal Costa e Liminha, “Menina Veneno” nasceu e virou sucesso. Seu primeiro disco solo, “Vôo de coração”, alcançou em 1984 a marca de 1 milhão de cópias vendidas, feito conseguido até então por Roberto Carlos.
Mais famoso que Mick Jagger
Transformado em ídolo pop, Ritchie viveu intensamente a época. “Usei e abusei dos programas de TV, do Chacrinha. Todo mundo parava para ver, desde garis a domésticas, mães, famílias inteiras. Eu tive a sorte de estar no lugar certo com a música certa”.
Em meio ao turbilhão de fãs que o perseguiam na praia, nas ruas, o casamento com Leda sobreviveu firme e forte. “Ela não tinha ciúmes. Levou tudo com muita serenidade e é por isso que a amo. É difícil levar a família nessa viagem de loucura que é o sucesso. Já passamos por muita coisa juntos”.
Ritchie chegou até a participar de um filme com Mick Jagger, o hilário “Running Out of Luck” (1987). Na história, o stone era seqüestrado por um bando de travestis no Brasil. O agente dele, interpretado por Dennis Hopper, resolveu colocar um outro astro do rock em seu lugar. “E esse astro era eu! (risos) Teve uma cena em que as fãs ignoravam o Mick Jagger e vinham me agarrar”, relembra Ritchie, que no filme aparece de gel new wave purpurinado no cabelo. “Not guilty!”, brinca ele, eximindo-se da culpa.
Menina Veneno virou nerd
Com sete discos lançados, Ritchie voltou a ganhar notoriedade nos anos 2000, com a volta do interesse pelos astros dos anos 80. Seu sucesso mais recente foi a música “Fala”, regravação em homenagem aos Secos e Molhados, que virou tema de José Mayer em “A Favorita”.
Em julho deste ano, o cantor vai lançar CD, DVD e Blu-Ray (formato em altíssima definição) comemorando seus 25 anos de carreira. “São hits antigos e novidades, todos com arranjos atuais. O produtor, Carlos de Andrade, é o mesmo que me acompanhou no início da minha carreira. Considero estar fechando um ciclo”, diz Ritchie. O projeto é o primeiro trabalho independente em Blu-Ray feito por um artista solo no Brasil.
Ritchie também está antenado com as novas tecnologias. Ele tem site, blog e até perfil no twittter. “Tenho twitter há um mês (@Ritchieguy) e estou viciado. Compartilho as fases do projeto com os fãs. Ontem perguntei aos meus ‘followers’ qual foi a primeira vez que cada um ouviu ‘Menina Veneno’ e me impressionei com as respostas. As pessoas lembram de detalhes, o que estavam fazendo naquele momento. Como um bom perfume que fica no ar e gera lembranças”.
fonte: EGO
Nenhum comentário:
Postar um comentário