Assim que chega ao poder em 1933, Adolf Hitler inicia uma ditadura militar, na qual o Ministério da Cultura Popular e Propaganda desempenha um papel fundamental. Criado em Março, sob a direcção de Josef Goebbels, rapidamente se apoderou dos meios de comunicação, que tomou a seu cargo: rádio, imprensa, teatro e cinema.
Um ano depois, em 1934, cria-se um novo regulamento cinematográfico: é instaurada a censura prévia dos guiões e projectos de novos filmes. Para o devido cumprimento da legislação é também criado um departamento destinado a regular a importação e exportação das películas. Estas deviam não só reflectir os ideais nazis, como ser dirigidas por responsáveis pertencentes à raça ariana. Goebbels confiava no poder do cinema e acreditava que através dele ganharia e conservaria o coração do povo.
Fê-lo através do cinema informativo. Com ar cuidado e carácter jornalístico, em 1938, os noticiários já eram obrigatórios em todas as salas comerciais. Exibiam os actos do partido. Com o aproximar da Segunda Guerra Mundial, serviram também para preparar psicologicamente a nação para a guerra. Eram frequentes as noticias e reportagens sobre as operações militares alemãs.
Entre 1939 e 1940, realizaram-se inúmeros filmes com um novo objectivo: denegrir a imagem do inimigo, sendo que o principal alvo eram os judeus. Tanto O Eterno Judeu, de Hippler, como O judeu Suss, de Veit Harlan, passavam a imagem de que estes eram um alvo a abater. Com isto, claramente já estava em preparação a política de extermínio e a consequente ida para os campos de concentração.
Além disso, o regime, querendo manipular o maior número de pessoas, não esqueceu a audiência doméstica. Com as mulheres fora do mercado de trabalho e tempo disponível, foram produzidos filmes específicos para elas, assim como alguns de cariz educativo para os mais jovens. A politica de propaganda mantinha-se, sempre: um povo lutador, vencedor e superior.
Poucos anos antes, já dois importantes documentários tinham saído ao público. A temática central era transmitirem a criação de um líder, um salvador com o qual a população devia identificar-se e estabelecer uma relação quase divina. Foi Hitler quem representou esse papel. Na vida real e no ecrã. Triumph des Willens (O Triunfo da Vontade) é o documentário por excelência. Pensado e realizado por Leni Riefenstahl, retrata o congresso nazi de 1934. Nada foi filmado ao acaso. O cenário foi detalhadamente preparado: ao ar livre, a gigantesca e impressionante massa organizava-se em redor do Führer, enquanto este discursava.
Os discursos, esses, preparados de antemão e memorizados, eram também acompanhados por bandeiras, estandartes, canções e saudações nazis por um povo em delírio.
Para se distanciar dos noticiários, que apresentavam somente planos estáticos, Leni investiu no movimento. Foram colocadas câmaras em diversos locais, que permitiam não só um constante travelling pelo acontecimento, como a captura de diversos ângulos.
Há que dizer que desse mesmo movimento e ao visualizar-se a massa, curiosamente não se consegue distinguir nenhum rosto em particular. Ou seja, os planos são sempre colectivos, não deixando a descoberto a identidade de ninguém. O objectivo deste pormenor era precisamente demonstrar a (re)união e lealdade de um povo por um mesmo ideal, por um mesmo líder.
Se, por um lado, este documentário cumpria os propósitos de uma propaganda a nível nacional, já Olimpiada pretendia enviar uma mensagem além-fronteiras. Tendo como fundo os Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, a intenção era passar a aparente cooperação e camaradagem entre os atletas. Uma cooperação desmentida pela tensão diplomática que então se vivia na Europa. Mais uma vez, Leni não descuidou os detalhes e ideias do partido. A força, a confiança dos alemães, a superioridade do corpo ariano, foram captadas em todas as provas. Esta seria a última competição antes da 2ª Guerra Mundial.
Pode ver no Youtube os filmes O Triunfo da Vontade e algumas sequências de Olimpíadas.
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