sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Jamelão: Um ícone do samba brasileiro que deixou saudade!

Nascido em São Cristovão, criado em Engenho Novo, ele se tornou um dos maiores ícones do samba.





Apaixonado pela Estação Primeira de Mangueira, Jamelão passou a maior parte da sua vida dentro da escola: começou com ritmista, tocando tamborim e mais tarde se tranformou em intérprete. Dizia que tinha duas grandes paixões na sua vida: O Vasco da Gama e a Mangueira.

Nos temos de sua juventude, costumava dançar e cantar gafieiras onde ganhou o apelido de Jamelão!

O resto da história deste grande intérprete, todos sabem. Alguns diziam que ele ela muito bravo, que detestava ser chamado de "puxador de samba" e que perto dele, não deveria nem pronunciar o nome "Cartola".

Mas a injusta fama de mal-humorado que alguns lhe atribuíram, não era de tudo verdadeira: na verdade Jamelão gostava de fazer "trocadilhos", brincar mesmo: Se fosse convidado a se sentar, dizia: "eu não sento, me acomodo". Se fosse chamado para "tomar alguma coisa", dizia com um sorriso nos olhos, "eu não tomo, eu bebo".

Tinha sim, uma personalidade forte, momentos de impaciência, mas era educado, gentil e divertido com amigos mais próximos. Que o diga sua neta Manoela, uma das grandes paixões do avô.


O amigo, jornalista, cronista e produtor cultural Airton Gontow, reuniu em matéria publicada no ano da morte de Jamelão, algumas histórias engraçadas e curiosas que demonstram bem, como ele mesmo afirmou "o bom humor, do mal-humorado Jamelão", as quais transcrevemos abaixo:





No Sujinho, de madrugada
Estávamos no Sujinho, tradicional reduto da noite paulistana, com a bisteca mais famosa da cidade. Era a noite do jogo do Internacional de Porto Alegre contra o São Paulo, no Morumbi, pela Taça Libertadores. Percebemos alguns colorados, discretos e disfarçados no meio daquele bar lotado de são-paulinos cabisbaixos pela derrota em casa. Lá pelas três da manhã um grupo se aproximou da mesa: "Jamelão, somos gaúchos e teus fãs. Tu podes dar um autógrafo para a gente?" Jamelão olhou fixo para eles e disparou: "só se vocês acertarem qual é a minha musica predileta!". Cheio de generosidade, deu uma dica: "é do Lupicínio".

"Nervos de Aço"", exclamou um. "Vingança", disse outro. "Esses moços, pobres moços, ah se soubessem o que eu sei...", cantarolou um terceiro. Após mais tentativas, ele finalizou a conversa: "Você erraram, não tem autógrafo". Deu um leve pontapé em mim por baixo da mesa e começou a cantarolar: "até a pé nós iremos, para o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos, com o Grêmio onde o Grêmio estiver". Os colorados olharam atônitos. Ele abriu um largo sorriso e disse: "sou gremista em Porto Alegre, santista em São Paulo e, principalmente, vascaíno no Rio, mas vocês estão de parabéns pela bela vitória. Para quem dou os autógrafos?" Todos rimos saborosamente...





Jamelão explica por que não dá a mão
De cima do palco, Jamelão não percebeu de imediato o braço estendido. O homem pegou na barra da calça do famoso sambista carioca e puxou-a, com relativa força. Jamelão olhou, olhou, mas não teve a provável reação zangada. Inclinou o corpo e pegou o bilhete. Não satisfeito, o homem burlou a vigilância dos seguranças do bar, subiu no palco e logo se aproximou de Jamelão novamente com a mão estendida.

Temi pelo pior e imaginei que Jamelão empurraria ou no mínimo passaria um pito histórico no intruso do palco sagrado. Jamelão olhou, olhou e, finalmente, estendeu a mão para o aperto pedido pelo homem.

O sujeito desceu do palco e Jamelão prosseguiu cantando.

Ao final da canção, Jamelão interrompeu rapidamente os aplausos e disse:
"Há pouco eu quase não dei a mão para aquele homem que agora está sentado lá na frente e que subiu aqui no palco. Mas logo imaginei que no dia seguinte os jornais diriam: 'o Jamelão é antipático', 'o Jamelão é mal educado',. 'o Jamelão é isso, o Jamelão é aquilo'. Além disso essa música é tão bonita que não valia a pena interrompê-la. Por isso retribuí o cumprimento, mas agora eu vou contar por que não gosto de dar a mão para ninguém que não conheço:

Em 1963 eu estava indo para o morro da Mangueira, começou a chover e busquei abrigo na cobertura de um ponto de ônibus. Havia um homem de costas, fazendo xixi em um barranco. Quando ele terminou, virou-se, me viu e gritou: 'Jamelaaaaão!!' E veio em minha direção, com a mão aberta, para me cumprimentar. Então eu falei: 'sai pra lá, você estava pegando no seu e agora que me dar a mão!'

Depois disso pensei: sou um homem público. Aquele homem eu vi onde estava com a mão antes de tentar pegar na minha. Mas dos outros eu não vejo. De repente, aquele homem que está agora sentado lá na frente nem saiba que eu estava no bar, tomou umas cervejas a mais, foi ao banheiro, não lavou as mãos, saiu, ouviu a música e perguntou quem estava cantando. Aí veio até o palco, subiu e tive de pegar no dele por tabela. Por isso não pego na mão de ninguém!", disse Jamelão, para ser ovacionado pela platéia.
No dia 14 de junho, fazem três anos da morte deste carioca de São Cristóvao, que marcou tanto nossas vidas, com sua voz inconfundível e seu humor único. Todos que tiveram o prazer de o conhecer se orgulham de dizer que estiveram ao seu lado um dia. E aqueles que receberam a honra de estar em seu coração se orgulham ainda mais:

O Vasco da Gama, tem orgulho de dizer que ele fez parte da sua torcida, e que talves, hoje, lá do céu, ainda assista as partidas e puxe o coro "Vamos todos cantar de coração...".
Os componentes da Estação Primeira de Mangueira, se emocionam ao relembrar o tempo em que ele estava ali, juntinho com todo mundo.
A família, os amigos, todos relembram saudosos do bom e forte Jamelão que não se sentava, se acomodava, para presentear a todos, com uma canção:

" Saudade, diga a essa moça por favor/
Como foi sincero o meu amor/
Quanto eu a adorei tempos atrás/
Saudade, não esqueça também de dizer/
Que é você quem me faz adormecer/
Pra que eu viva em paz..."

Matéria: Lília Araújo
inspirada nos textos de Airton Gontow (jornalista, cronista e produtor cultural)


tags: musica, jamelão, samba, ícone

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